A doença aterosclerótica, além de ser altamente prevalente, apresenta evolução silenciosa e, quando se manifesta, pode ser fatal. Para entender o porquê desta prevalência, basta observar a incidência na população dos principais fatores de risco de desenvolvimento da doença aterosclerótica: hipertensão, obesidade, diabetes melito, níveis elevados de colesterol total e LDL-Colesterol, tabagismo, baixo HDL-Colesterol e sedentarismo.

Os hábitos alimentares apresentam-se como marcadores de risco para doenças cardiovasculares, na medida em que o consumo elevado de colesterol, gorduras (gordura saturada e gordura trans) somados ao baixo consumo de fibras, participa como causa das dislipidemias (aumento do colesterol total e LDL-C., aumento dos triglicerídeos e diminuição do HDL-C), obesidade, diabetes melito e hipertensão.

Um controle efetivo da doença cardiovascular se faz através de sua prevenção e controle dos fatores envolvidos em sua progressão através de modificações no estilo de vida: hábitos alimentares saudáveis, prática regular de exercício físico, interrupção do fumo, moderação no consumo de álcool, dentre outros.

Aspectos Nutricionais

Foi demonstrado em estudos científicos que pessoas que consomem grandes quantidades de gordura tem níveis elevados de colesterol e maior incidência de doença aterosclerótica em relação àqueles que consomem pouca gordura.

A gordura saturada, presente nos produtos de origem animal: leite integral e derivados, carnes gordurosas, manteiga, pele de aves e embutidos, gorduras sólidas e semi-sólidas em temperatura ambiente, gorduras visíveis, óleo de coco, azeite de dendê; e as gorduras do tipo trans: óleos e gorduras hidrogenadas principalmente as margarinas, sorvetes, cookies, chocolates, pães, cremes e sobremesas aeradas, óleos para fritura industrial, molhos para salada do tipo maionese, biscoitos amanteigados, croissant, folhados; são considerados determinantes dietéticos na elevação do colesterol total e LDL-C quando ingeridos acima do recomendado. A gordura trans além de elevar o LDL-C reduz o HDL-C, componente protetor cardiovascular.

O colesterol dietético também influencia no aumento do colesterol sanguíneo, ainda que em menor grau que a gordura saturada e trans. Existem variações individuais a essa resposta. O colesterol é encontrado apenas em alimentos de origem animal: carnes, vísceras (fígado, miolo, miúdo e coração), leite integral e seus derivados (queijos, manteiga, creme de leite), embutidos (salsicha, lingüiça, bacon) torresmo, frutos do mar (lagosta, camarão, ostra, marisco, polvo) e gema de ovo.

Portanto, a ingestão de gordura saturada e gordura trans são a principal causa alimentar de elevação do colesterol sanguíneo.

A Associação Americana do Coração recomenda para tratamento da hipercolesterolemia que a gordura total da dieta esteja entre 25% a 35% das calorias totais. As calorias diárias devem estar adequadas ao peso (para atingir e/ou manter o peso desejável); altura, idade, sexo e fator atividade, portanto, devem ser individuais. Dentre as gorduras totais recomendadas, as do tipo saturadas não devem ser superiores a 7%, a gordura poliinsaturada (Omega 3 e Omega 6) até 10% e a gordura monoinsaturada até 20% das calorias totais da dieta. O colesterol dietético não deve ultrapassar mais de 200mg/dia.

Para se atingir os valores recomendados de gorduras, deve-se consumir:
· Carne vermelha: não mais de 200g por dia no máximo 3 (três) vezes por semana apenas cortes magros (filé mignon, coxão mole, patinho)
· Frango ou Peru: sem pele e não mais que 200g por dia.
· Peixes: são todos aceitáveis.
· Ovos: podem ser consumidos 2 (duas) vezes por semana, incluindo os das preparações (bolos, suflês, omeletes, à milanesa).
· Leite e Derivados: devem ser desnatados ou desengordurados.

Quanto ao grupo de alto risco (portadores de diabetes melito; portadores de doença cardiovascular preexistente e indivíduos com mais de dois fatores de risco, além do colesterol elevado) para doença cardíaca:

· Exclusão de carne vermelha.
· Ingestão de frango ou peru não mais que 170g por dia.
· Peixes são todos aceitáveis, porém, consumir preferencialmente: cavala, atum, sardinha, arenque, truta e salmão.
· Somente a clara do ovo é permitida.
· Leite e derivados: desnatados e desengordurados.

Gorduras Insaturadas

As gorduras insaturadas são representadas pelas séries ômega 6 (Linoléico) e ômega 3 (Linolênico) que são gorduras poliinsaturadas e ômega 9 (oléico) gordura monoinsaturada.

A substituição das gorduras saturadas por gorduras poliinsaturadas, em quantidades ideais, reduz o colesterol total e o LDL-C. Porém, possuem o inconveniente de baixar os níveis plasmáticos de HDL-C. As gorduras monoinsaturados reduzem igualmente o colesterol, sem, no entanto, diminuir o HDL-C.

As principais fontes na alimentação de gorduras monoinsaturadas são: óleo de oliva (azeite extra virgem), azeitona, abacate e oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas, avelã, pistache) e óleo de canola. As gorduras monoinsaturadas provavelmente diminuem também os níveis plasmáticos de triglicerídeos.

As gorduras poliinsaturadas do tipo ômega 6 estão presentes nos óleos vegetais, exceto óleo de coco, cacau e palma (dendê). As fontes dietéticas do ômega 3 são: óleos vegetais como o de canola, soja, linhaça, óleos de peixe, peixe de água muita frias (cavala, arenque, atum, sardinha, truta e salmão). As gorduras ômega 3 também diminuem os níveis plasmáticos de triglicerídeos e colaboram de maneira favorável prevenindo trombose.

Mesmo apresentando benefícios a saúde, as gorduras monoinsaturadas e poliinsaturadas, em excesso, aumentam o peso corporal. É importante que a dieta seja acompanhada pelo profissional nutricionista, que determinará a quantidade adequada dos nutrientes.

Álcool

Os efeitos do consumo excessivo de álcool são desfavoráveis em indivíduos que apresentam hipertrigliceridemia, hipertensão, propensão ao ganho de peso, doenças hepáticas e doenças pancreáticas.

A Associação Americana do Coração recomenda que, caso haja ingestão de álcool, este consumo não ultrapasse a dois drinques por dia para homens e um drinque por dia para mulheres.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia não recomenda o consumo de álcool para prevenção da aterosclerose.

RECOMENDAÇÕES: 720ml de cerveja ou 60ml de bebida destilada (uísque, vodca, aguardente) ou 240ml de vinho por dia para homens e metade destes para mulheres.

Uva, Suco de Uva e Vinho Tinto

As uvas de coloração vermelho-escura apresentam concentração relevante de compostos fenólicos, que são encontrados na casca da uva. Seus efeitos benéficos são atribuídos ao composto resveratrol, que é uma substância produzida pela videira com finalidade protetora contra ação de fungos. São encontradas em maior concentração nas uvas vermelho-escura do que nas verdes claras, na ordem de 20 a 50 vezes mais no vinho tinto em relação ao vinho branco.

O revesratrol possui efeito protetor cardiovascular com capacidade de prevenir oxidação do LDL-C devido sua propriedade antioxidante. Também são verificadas inibição da agregação plaquetária e ação antiinflamatória.

Assim como nas uvas, podemos encontrar alto conteúdo desses compostos no vinho tinto e suco de uva. Porém, o vinho possui álcool em sua composição o que limita o seu consumo.

Café

As substancias Cafestol e Kahweol presentes nos grãos de café podem aumentar o colesterol sanguíneo. A água quente utilizada no preparo do café, remove algumas dessas substancias e estas ficam presentes no líquido que não é coado. A recomendação é sempre que possível usar o filtro de papel, pois retém as substancias citadas.

O café árabe (que cozinha o pó), café coado em coador de pano e café expresso não são recomendados.

Fibras

As fibras são classificadas em: solúveis e insolúveis. As fibras solúveis são representadas pelas frutas, aveia, cevada, leguminosas (feijão, grão de bico, lentilha e ervilha). Essas fibras reduzem o tempo de transito gastrointestinal e ajudam na eliminação do colesterol.

As fibras insolúveis não atuam sobre a colesterolemia, mas aumentam a saciedade auxiliando na redução da ingestão de calorias. As fontes alimentares são representadas pelos grãos integrais e folhosos (alface, agrião, brócolis, chicória, etc.).

A recomendação da ingestão de fibra alimentar total para adulto é de 20 a 30g por dia, sendo em torno de 25% (6g) de fibra solúvel.

Fitoesteróis

São substancias encontradas apenas nos vegetais, que desempenham funções semelhantes ao colesterol em tecidos animais. O principal fitoesterol é extraído de óleos vegetais. Uma dieta balanceada com quantidades adequadas de vegetais (legumes, verduras e frutas) fornece aproximadamente 200 a 400 mg de fitoesteróis. A ingestão desses compostos reduz a absorção do colesterol alimentar promovendo redução do colesterol total e dos níveis de LDL-C.

Soja

As principais fontes alimentares que contém soja são: queijo (Tofu), leite ou extrato, carne ou proteína texturizada, óleo, grão, farinha e concentrado protéico de soja. A eficácia desses alimentos na diminuição do colesterol total é comprovada por estudos científicos onde o consumo de proteína animal foi substituída pela proteína de soja.

Para garantir seus efeitos benéficos,um produto a base de soja deve conter em sua porção 6,25g de proteína de soja ou mais, pouca quantidade de gordura total (menos de 3g), gordura saturada (menos de 1g) e possuir baixo teor de colesterol (menos de 20mg). A recomendação para que haja redução do colesterol é de 25g de proteína de soja por dia, ou seja, 4 (quatro) porções de produtos da soja.

Considerações Finais

Modificar hábitos alimentares é um grande desafio para profissional de nutrição, pois geralmente são estabelecidas muitas restrições e orientações. Isto nem sempre agrada aos clientes que pela falta de tempo nos dias de hoje, utilizam com mais freqüência alimentos industrializados ou consomem lanches rápidos e muito calóricos, ricos em gordura saturada e gordura trans, colesterol, sódio, entre outros.

Associados a modificação alimentar, deve-se incorporar a prática regular de atividade física ao menos 30 minutos todos os dias. Vários benefícios estão relacionados aos exercícios, dentre eles podemos destacar a melhora dos níveis pressórios e hipertensos, a redução do peso corporal, um melhor controle do diabetes e a melhora do perfil lipídico, marcado pelo aumento do HDL-C e pela redução dos triglicerídeos.

O fumo passivo ou ativo está fortemente relacionado como fator de risco no desenvolvimento da doença cardiovascular. A nicotina do tabaco está envolvida diretamente no dano arterial, diminuição do HDL-C e aumento da formação de trombose. A suspensão do fumo reduz o risco destas alterações.

A manutenção de um estado nutricional adequado através de dieta individualizada e da educação nutricional juntamente com modificações no estilo de vida, associados ou não ao uso de medicamentos, são fundamentais na recuperação, no controle ou na prevenção de doenças.

Evelyn Peçanha Gutierrez
Nutricionista
CRN 2005101270